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Apesar dos desafios, mulheres e meninas participam em pesquisas em diversas áreas das ciências
Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
![Helislaine, estudante de Ciências Biológicas do IFTO/Araguatins destaca os desafios de mulheres e meninas na pesquisa](https://portal.ifto.edu.br/noticias/apesar-dos-desafios-mulheres-e-meninas-participam-em-pesquisas-em-diversas-areas-das-ciencias/meninas-na-ciencia/@@images/77ede00f-eb0f-41a4-b281-499c20ba2f5a.jpeg)
Helislaine, estudante de Ciências Biológicas do IFTO/Araguatins destaca os desafios de mulheres e meninas na pesquisa
Comemorado no dia 11 de fevereiro, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o principal objetivo de combater a discriminação e os estereótipos, em particular, em determinadas áreas do conhecimento em que predominam pessoas de um mesmo de gênero. Esse é o caso das profissões das áreas exatas e da terra, em que a presença masculina ainda é majoritária.
Alinhado ao esforço proposto pela ONU, o Instituto Federal do Tocantins (IFTO) busca incentivar a participação feminina em diversas áreas científicas e os resultados são vistos em diversas unidades da instituição. No IFTO de Araguatins, a estudante Mayara Pereira da Luz Sousa, por exemplo, está inserida em um curso presença masculina é predominante. Ela estuda Engenharia Agronômica, uma área que, de acordo com dados da ONU, conta com apenas 28% de presença feminina.
Ela está inserida em uma pesquisa que tem como objetivo estudar o impacto de doenças no brócolis do tipo ramoso e reconhece que ainda existem muitas dificuldades para as mulheres. "Apesar de sempre lutamos por direitos iguais, é nítido que algumas atividades práticas acabam sendo mais desafiadoras para as meninas", disse.
Para a estudante de licenciatura em Ciências Biológicas Helislaine de Souza Rocha, os desafios vão além do fato de ser mulher. Ela tem uma paralisia cerebral do tipo discinética, que gera perda na coordenação motora e altera a fala, e precisa enfrentar o desafio da inclusão. A participação em projetos de pesquisa tem contribuído mais que no aprofundamento dos conhecimentos acadêmicos. Tem fortalecido sua auto-estima. Ela foi uma das premiadas da Jornada de Iniciação Científica e Extensão (Jice) de 2022 e ficou muito surpresa. "Apesar de ter recebido muitos elogios durante a apresentação, não estava tão confiante que seria premiada", contou Helislaine. A jovem pesquisadora estuda a educação inclusiva e chama a atenção para as dificuldades que ainda existem para as pessoas com deficiência que estudam.
Mais conhecimento
Na unidade de Palmas, mulheres e meninas participam em pesquisas em diferentes áreas. A professora Tâmara Machado coordena um projeto que conta com a participação de duas estudantes, a Brenda Souza Silva e a Wendy Andrade Meireles. Elas são unânimes em dizer que a participação no projeto tem agregado mais conhecimento do que os que elas têm em sala de aula. Além disso, desperta o interesse pela área de estudo e contribui para a inserção no mercado de trabalho, com experiência e qualificação que vai para o currículo.
Contudo, elas fazem parte de um seleto grupo de mulheres e meninas que participam de pesquisa acadêmica. Para citar um exemplo, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) identificou que apenas 33% das bolsas de Produtividade em Pesquisa que a instituição oferece vão para mulheres. Esse dado é similar ao cenário mundial, em que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) estima que apenas 30% de cientistas do mundo são mulheres.
Desafios
E os desafios são imensos, como citou Helislaine: "as mulheres precisam buscar uma carreira profissional e ainda têm que administrar seu tempo entre casa e família". A professora Tâmara concorda com essa opinião e cita a maternidade como o principal desafio que tem enfrentado no desenvolvimento de pesquisa e destaca a necessidade de ações que propiciem o trabalho de mulheres que são mães na academia. E ela não está sozinha. Uma pesquisa realizada com 1182 docentes brasileiras identificou que 77% delas são mães e a maioria (81%) afirmou que a maternidade teve um impacto negativo na carreira, com quedas drásticas no número de publicações científicas.
![Meninas na Ciência Professora Tâmara conduz pesquisa sobre ecoepidemiologia das Leishmanioses em Palmas e conta com apoio de duas estudantes](https://portal.ifto.edu.br/noticias/apesar-dos-desafios-mulheres-e-meninas-participam-em-pesquisas-em-diversas-areas-das-ciencias/meninas-na-ciencia-3/@@images/14a1c234-31d6-4b13-a78a-4d3c4e73fa3a.jpeg)
Esse reflexo foi observado pela estudante de licenciatura em Física Marcela Vitória Silva Oliveira. Durante as pesquisas para o projeto que participa ela afirmou ter encontrado mais autores masculinos do que femininos e justifica pelo fato de essa área do conhecimento ser de maioria masculina, o que motivou o seu orientador a prepará-la para cenário. "Meu orientador conversou muito comigo durante todo o projeto que isso não deveria me intimidar. Acho que o desafio em participar de projetos de pesquisa é maior por conta de uma pressão interna, que acontece quando o público feminino é uma minoria, em apresentar bons resultados, ou até melhores, e em provar que também podemos fazer pesquisa tão bem quanto os homens". Sobre isso, a professora Tâmara faz o alerta: "É urgente que haja incentivo para que mais meninas se interessem por pesquisa, principalmente nas áreas em que o número de mulheres é bem menor, como as exatas".
A professora da unidade de Gurupi Edna Pinho pesquisa a área da educação com foco na formação de professores e aponta algumas alternativas para os desafios enfrentados na maior participação de mulheres e meninas nas ciências. "É preciso que haja o combate contínuo das segregações vertical e horizontal; o investimento na educação da nova geração (homens e mulheres) para sensibilidade e consciência e para o reconhecimento da mulher como pesquisadora; e o investimento em políticas públicas para promoção da equidade de gênero na comunidade científica e modificação da expectativa da sociedade em relação ao perfil considerado ideal ou adequado para área de exatas".
Como forma de alcançar algumas dessas propostas, o IFTO conta com editais específicos para a proposição de projetos de pesquisa por mulheres. Na última reunião do Codir, realizada no último dia 8, foi aprovada a oferta de novas bolsas específicas para o ano de 2023. "A inserção das meninas em pesquisa acadêmica por parte do IFTO é uma grande oportunidade para que elas mostrem que são tão capazes e competentes quanto os homens", completou a professora Tâmara.